Introdução: Quando a Fé Ganha Vida e Movimento
Há mais de quatrocentos anos, quando dezembro chega ao fim e temos o Dia de Reis se aproximando, algo extraordinário acontece nas ruas, comunidades e casarões do Brasil. Não é apenas uma festividade folclórica. É algo muito mais profundo: é a Folia de Reis, uma manifestação viva da fé católica que reconstitui a mesma adoração que três magos fizeram há dois mil anos.
Imagine-se naquela noite fria de janeiro. Você ouve antes de ver. Violões, pandeiros, harmônicas em ritmo contagiante tocam uma música que parece vir do coração. Depois, vem a luz da bandeira bordada com cores vibrantes—verde, amarelo, vermelho—e aquela estrela que brilha como símbolo de esperança. Assim é a Folia de Reis: não é apenas folclore. É fé em movimento. É a história de três reis que buscavam Jesus, sendo reencenada todos os anos em comunidades que ainda buscam o mesmo.
Mas você sabe realmente o que é Folia de Reis? Por que essa tradição é tão importante para a fé católica? Quando exatamente ela acontece? E, especialmente—questão que muitas pessoas fazem—é pecado participar de uma Folia?
Neste artigo profundo, exploraremos cada dimensão dessa celebração extraordinária que atravessou séculos e continua tocando o coração de fiéis por todo o Brasil.
O que é Folia de Reis? Muito Mais que Folclore
A Definição que Envolve o Corpo e Alma
A Folia de Reis é, em sua essência, uma celebração católica que reencena a jornada histórica e sagrada dos Reis Magos até Belém. Também conhecida como Reisado em algumas regiões ou Terno de Reis na Bahia, essa manifestação une profundamente o folclore com a religiosidade autêntica.
Mas vamos ser mais específicos. A Folia de Reis não é simplesmente um grupo de pessoas saindo pelas ruas. É uma celebração estruturada, quase litúrgica, que conta a história de como três sábios do Oriente, guiados por uma estrela, viajaram por terras áridas e desconhecidas para adorar o Menino Jesus recém-nascido. E aqueles que participam da Folia assumem esse papel sagrado: são ao mesmo tempo narradores, atores e peregrinos espirituais.
Os Elementos Visuais e Simbólicos
Quando uma Folia de Reis chega à sua porta, você encontra elementos que não são aleatórios. Cada coisa tem significado:
A Bandeira de Reis é o coração espiritual da Folia. Bordada com símbolos sagrados, essa bandeira não é meramente decorativa. Ela representa a presença de Jesus durante toda a apresentação. Frequentemente, pessoas beijam a bandeira, reverenciam-na, porque compreendem que ali não há apenas pano e fio, mas um portal para a espiritualidade.
Os Instrumentos Musicais — violão, pandeiro, harmônica, cavaquinho — tocam versos que foram passados de geração em geração. Essas não são melodias soltas. São narrativas cantadas, histórias da Bíblia, ensinamentos cristãos codificados em música que qualquer pessoa, letrada ou não, consegue compreender.
Os Personagens cada um com seu papel específico. O Mestre é o detentor do conhecimento, aquele que sabe de cor os versos que vêm de séculos passados. O Contra-mestre o auxilia. E existe o Palhaço (ou Bastião), cujo papel é fazer versos engraçados, acrobacias, e que frequentemente carrega consigo a capacidade de fazer qualquer um rir—inclusive os que enfrentam as maiores dificuldades da vida.
A Importância de Entender: Folia de Reis é Tradição Católica Genuína
Preciso deixar isso cristalino desde o início: a Folia de Reis não é uma invenção moderna. A Igreja Católica reconhece essa tradição como expressão autêntica de fé. Não é algo que surgiu da imaginação popular desonesta. É uma devoção enraizada em séculos de história.
O Catecismo da Igreja Católica fala sobre a importância da celebração litúrgica e das manifestações de fé do povo. O Documento de Aparecida (2007), produzido pela CNBB—Conferência Nacional dos Bispos do Brasil—refere-se especificamente à Folia de Reis como um "precioso tesouro da Igreja" que deve ser preservado e celebrado.
Quando é a Folia de Reis? O Calendário Sagrado
Datas Específicas que Definem o Período
Se você está lendo isso e se pergunta quando é a Folia de Reis, a resposta envolve compreender o calendário litúrgico católico.
O período principal da Folia de Reis começa em 24 de dezembro, no Natal, quando Jesus nasce em Belém. Mas o momento de destaque, o pico máximo da celebração, ocorre entre 25 de dezembro e 6 de janeiro, sendo o 6 de janeiro conhecido como o Dia de Reis ou Epifania do Senhor.
Portanto, se alguém lhe perguntar "quando é Folia de Reis", a resposta completa é: entre o Natal e o Dia de Reis, com intensidade máxima na primeira semana de janeiro. Em algumas regiões, a Folia continua até 20 de janeiro, data de São Sebastião, quando celebram a intercessão desse santo mártir.
Por que Essas Datas Específicas?
Não é coincidência. Essas datas correspondem à jornada real que os Reis Magos fizeram. Eles partiram de seus reinos após observar a estrela. A viagem foi longa—estudiosos estimam entre dois e três meses. Portanto, esses doze dias (24 de dezembro a 6 de janeiro) simbólica e teologicamente representam essa jornada que continua sendo reenactada.
O Pico de Buscas e Curiosidade
Há algo fascinante acontecendo nos motores de busca também. As pessoas procuram massivamente por "Folia de Reis" justamente nesses períodos. É como se o coração humano, mesmo secularizado, mantivesse uma memória ancestral dessa celebração. Quando dezembro chega, há um despertar—pessoas querem saber, aprender, participar.
O Significado Profundo: Teologia, Simbolismo e Espírito
A Epifania: Quando Deus Se Manifesta
A palavra Epifania vem do grego e significa "manifestação". Não é um conceito teológico vago. É a declaração de que Deus, em Jesus Cristo, se revelou definitivamente ao mundo.
Para os católicos, a Epifania do Senhor marca o momento em que Jesus não é mais apenas o Filho de Deus nascido para os judeus. Ele se manifesta como Salvador de toda a humanidade—dos gentios também, representados pelos Reis Magos que vinham do Oriente.
A Folia de Reis celebra exatamente isso. Quando aquelas pessoas chegam à sua porta, cantando e dançando, eles estão proclamando: "Jesus não pertence apenas àquele tempo. Ele continua se manifestando. Continua chegando. Continua mudando vidas."
Os Três Reis: Pessoas com Nomes, Histórias, Significados
A Bíblia, curiosamente, não diz que eram três. Não diz seus nomes. Mas a tradição católica, ao longo de séculos, identificou:
Gaspar (também chamado Caspar) é frequentemente representado como o Rei de Arbia, aquele que foi o primeiro a partir, que viu a estrela primeiro. Ele ofereceu ouro—símbolo de realeza, reconhecendo em Jesus o rei dos reis.
Baltazar (ou Belchior) é o Rei de Társis, representado frequentemente como o mais jovem. Ele ofereceu incenso—símbolo de divindade, de adoração, reconhecendo a natureza divina de Jesus.
Melchior (ou Melhor) é o Rei da Arábia, geralmente representado como o mais idoso. Ele ofereceu mirra—símbolo de sofrimento e morte, prefigurando que aquele Menino um dia sofreria pela humanidade.
Cada presente carregava um significado teológico profundo. Não era apenas riqueza sendo entregue a um bebê rico. Era uma declaração de fé, uma profissão da natureza de Jesus: rei, Deus, e o redentor que havia de sofrer.
O Simbolismo Continua Vivo na Folia
Quando você observa uma Folia de Reis em ação, essa teologia se torna encarnada. Os versos contam essas histórias. A bandeira representa a presença de Jesus em movimento. Os instrumentos fazem você sentir espiritualmente, não apenas intelectualmente.
Por isso dizemos que a Folia é fé em movimento. Não está pronta em um livro para ser lida silenciosamente. Está viva, pulsante, sendo proclamada de casa em casa.
Folia de Reis na Bíblia: O Fundamento Sagrado
Mateus 2:1-12 - O Texto que Funda Tudo
A Bíblia Sagrada, no Evangelho de Mateus, capítulos 2, versículos 1 a 12, conta a história que fundamenta toda a Folia de Reis:
"Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes. Decerto, vieram do Oriente a Jerusalém uns magos, dizendo: Onde está aquele que nasceu rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo."
Leia bem: "viemos adorá-lo". Essa é a intenção pura. Não vieram roubar. Não vieram competir pelo poder. Vieram para adorar. E a Folia de Reis perpetua exatamente essa intenção.
O evangelho continua, descrevendo como os magos entraram na casa onde estava o Menino Jesus com Maria, sua mãe, e "prostrando-se, o adoraram". Ofereceram seus presentes. E depois, avisados em sonho para não retornar a Herodes, voltaram por outro caminho.
Uma Passagem Singela, Uma Riqueza Inesgotável
Pense nisto: apenas uma dúzia de versículos da Bíblia criou uma celebração que dura até hoje, quatrocentos anos depois de chegar ao Brasil, tocando milhões de vidas. Isso é o poder de uma verdade encarnada na história.
Toda vez que uma Folia de Reis é realizada, ela está vivificando esses versículos bíblicos. Está dizendo: "Aquilo não foi apenas um evento histórico. Foi um evento espiritual eterno. E nós, aqui e agora, participamos daquela mesma busca de Jesus."
A Jornada Espiritual: Não Apenas Geográfica, mas Transformadora
Estudiosos da Bíblia observam algo crucial: os Reis Magos não voltaram ao ponto de partida. Foram transformados. A experiência de encontrar Jesus não os deixou iguais.
Isso é uma mensagem poderosa para quem participa de uma Folia de Reis. Não é apenas sair de casa, cantar, ganhar comida no final. É uma jornada interior. É você permitir que o encontro com Jesus—reencenado, celebrado—o transforme também.
Folia de Reis é Católica? A Resposta Clara e Fundamentada
Origem: Espanha, Idade Média, Devoção Genuína
Sim, a Folia de Reis é genuinamente católica. Sua origem remonta à Espanha medieval, provavelmente ao século XIII, quando comunidades católicas começaram a recriar a cena da adoração dos Magos como forma de catequese viva.
Naquela época, a maioria das pessoas era analfabeta. Como ensinar história bíblica? Através da dramatização. Através da música. Através de processos que engajassem não apenas a mente, mas o corpo todo e o coração.
De Portugal ao Brasil: Uma Tradição que Atravessou Oceanos
Com a colonização portuguesa, a tradição da Folia chegou ao Brasil. Os jesuítas, grandes catequetas, reconheceram o valor pedagógico e espiritual da Folia e a incentivaram. Logo, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e depois por todo o país, a Folia ganhou raízes profundas.
Cada região adaptou à sua realidade, mantendo o coração intacto:
- Na Bahia, tornou-se o Terno de Reis
- No Nordeste, é conhecida como Reisado
- Em Minas Gerais, especialmente no Vale do Café, há grupos centenários
- No Rio de Janeiro, em Vassouras, existem treze grupos de Folias documentados
Reconhecimento Oficial da Igreja
O Catecismo da Igreja Católica reconhece a importância das manifestações de fé do povo. O Documento de Aparecida, resultado da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em 2007, menciona expressamente as manifestações da religiosidade popular, incluindo a Folia de Reis, como "precioso tesouro que deve ser cuidado e aprofundado".
Bispos, padres e arcebispos em todo o Brasil apoiam e participam de Folias de Reis. Não como mera concessão folclórica, mas como reconhecimento de que ali existe fé genuína, teologia encarnada, espiritualidade viva.
Como é a Festa Folia de Reis? Uma Experiência Sensorial e Espiritual
O que Você Ouve: Música que Toca a Alma
Quando uma Folia de Reis se aproxima, o som é inconfundível. Violões com cordas desgastadas pelo tempo tocam com uma precisão que só vem da prática de décadas. Pandeiros marcam o ritmo. Harmônica soa lamentosa e esperançosa simultaneamente. Cavaquinho adiciona leveza.
E as vozes. Ah, as vozes! Não são vozes treinadas em ópera. São vozes simples, de pessoas que trabalham com as mãos, que enfrentam dificuldades diárias. Mas quando cantam os versos antigos, há algo que transcende a simplicidade. Há unção espiritual.
Os versos contam histórias: do nascimento de Jesus, da jornada dos Magos, da estrela que os guiou, de Herodes e suas intrigas, da chegada a Belém, da adoração do Menino Deus. Cada verso é uma narrativa, quase como se fosse um evangelho sendo proclamado.
O que Você Vê: Cores, Movimento, Sagrado e Popular
A bandeira de Reis é a primeira coisa que chama atenção. Bordada com as cores verde, amarelo e vermelho, frequentemente trazendo a imagem de uma estrela ou de Jesus criança, ela é tratada com reverência que rivaliza com qualquer objeto litúrgico.
Os personagens chegam em sequência: o Mestre, com sua autoridade calma; o Contra-mestre, sempre atento; os foliões com seus instrumentos; e o Palhaço, cuja máscara e acrobacias trazem leveza sem perder a sacralidade.
A bandeira é frequentemente colocada diante do presépio da casa visitada, ou diante de uma imagem de Jesus. Pessoas se aproximam para beijá-la, fazer o sinal da cruz, reverenciar.
O que Você Sente: Frio, Calor, Presença, Graça
Faz frio. Estamos em janeiro, noite. O frio penetra os ossos. Mas quando a Folia chega, há um calor diferente—não do corpo, mas da comunidade, da fé compartilhada.
Há também uma presença que não é fácil de explicar com palavras. As pessoas que permanecem nas casas durante a visita relatam sensações de paz, de proteção, de contato com o sagrado.
A Estrutura de Uma Apresentação Típica
- Chegada e Permissão: A Folia chega à porta, pedem permissão para entrar. Isso não é formalismo. É reconhecimento de que aquele espaço é sagrado e não invasor.
- Cantoria Inicial: Versos que contam a história bíblica, que proclamam a missão da Folia, que pedem a bênção de Jesus e de Maria.
- Interação Teatral: Brincadeiras, versos engraçados do Palhaço, mas sempre mantendo respeito ao sagrado. Há humor, mas não há profanação.
- Bênção: A bandeira passa sobre o presépio ou sobre a imagem de Jesus. Orações são recitadas. Bênçãos são invocadas sobre aquela casa e sua família.
- Encerramento: "Vou tocando meu instrumento para os três Reis do Oriente, para Nossa Senhora aparecida e para Jesus que nasceu..." A Folia segue para a próxima casa, levando consigo as graças pedidas e ofertadas.
Qual a Importância da Folia de Reis? Muito Mais que Tradição
Importância Espiritual: Renovação de Fé
Para o católico, a Folia de Reis é oportunidade de renovar sua fé. Não é uma fé abstrata, teórica. É uma fé que você vê, ouve, sente, participa. É catequese viva.
Quando você recebe uma Folia em sua casa, sua família não esquecerá. Especialmente as crianças. Aquela experiência marcará suas memórias espirituais para toda a vida.
Importância Cultural: Preservação de Identidade
O Brasil está em constante transformação. Valores tradicionais são esquecidos. Mas a Folia de Reis mantém viva uma identidade católica genuína, diferenciada, brasileira e profundamente espiritual.
Que privilégio é poder dizer: "Meus avós viram uma Folia. Meus pais viram uma Folia. Eu vejo uma Folia. Meus filhos verão uma Folia." É um fio contínuo de fé atravessando gerações.
Importância Evangelizadora: Catequese em Ação
Quantas crianças conhecem a história dos Reis Magos porque a Folia a contou? Quantas famílias, durante a visitação, rezam juntas, conversam sobre Jesus, fortalecem sua vida espiritual comunitária?
A Folia é evangelização encarnada. Não é impositiva. É convidativa. "Vocês querem ouvir a história de Jesus? Querem ser abençoados? Querem vir conosco nessa jornada?"
Importância Comunitária: Unidade em Busca do Sagrado
Em um mundo cada vez mais isolado, onde as pessoas vivem em seus apartamentos, em suas bolhas digitais, a Folia de Reis reúne pessoas. Reúne ricos e pobres. Reúne jovens e idosos. Reúne estranhos e conhecidos.
Todos em torno de uma bandeira, celebrando Jesus, comendo juntos, rezando juntos. Há algo profundamente humanizador nisso.
Folia de Reis é Pecado? A Resposta Teologicamente Fundamentada
A Pergunta que Muitos Fazem, Com Sinceridade
É comum ouvir críticas, especialmente de tradições cristãs diferentes: "Mas isso não é como Carnaval? Não é pecado participar de folia?"
A resposta direta e teologicamente clara é: Não. Não é pecado. Muito pelo contrário.
Mas vamos aprofundar para remover qualquer dúvida.
Diferença Fundamental 1: Intenção
Carnaval: Sua intenção é a diversão mundana, frequentemente envolvendo excessos.
Folia de Reis: Sua intenção é adoração e evangelização.
A Igreja ensina que o pecado está não apenas na ação, mas na intenção que move a ação. Uma ação neutra em si mesma pode ser pecaminosa se feita com intenção maligna. Inversamente, uma ação que parece mundana pode ser sagrada se feita com intenção pia.
A Folia de Reis é claramente motivada por desejo de honrar Jesus, de evangelizar, de preservar fé.
Diferença Fundamental 2: Conteúdo
Carnaval: Foco em sensualidade, excessos corporais, costumes que frequentemente se opõem aos valores cristãos.
Folia de Reis: Foco em história bíblica, devoção, proclamação de verdades cristãs.
Você não vai ouvir em uma Folia de Reis versos que promovam luxúria, ganância ou qualquer vício. Vai ouvir versos que contam sobre Jesus, que invocam bênçãos, que proclamam salvação.
Diferença Fundamental 3: Efeito na Alma
Carnaval: Frequentemente afasta o cristão de Deus, mergulhando-o em prazeres dos sentidos sem guarida espiritual.
Folia de Reis: Aproxima o cristão de Deus. Fortalece sua fé. Renova seus compromissos com Jesus.
A Igreja reconhece que existem ações que, pelo seu próprio efeito, nos aproximam de Deus (essas são virtudes, práticas religiosas), e outras que, pelo seu próprio efeito, nos afastam (essas são vícios, pecados).
A Folia é claramente do primeiro tipo.
Advertência Pastoral: Cuidados Legítimos
Agora, há um cuidado pastoral legítimo. Se alguém usa a Folia de Reis como pretexto para embriaguez excessiva, para sensualidade, para falta de reverência, então sim, aquela pessoa estaria distorcendo a tradição.
Mas isso não faz a Folia em si ser pecaminosa. É como dizer que rezar é pecaminoso porque alguém rezou com intenção hipócrita. Não. A oração em si é boa. A intenção distorcida é que é problemática.
Fundamento Teológico Profundo
O Catecismo da Igreja Católica ensina que a celebração das festas litúrgicas e a participação em manifestações de fé do povo é louvável e encorajada. A Igreja celebra que os cristãos encontram formas criativas, encarnadas, de expressar sua fé.
Portanto, participar de uma Folia de Reis, com reverência e intenção genuína, é viver bem a fé católica.
Folia de Reis e a Bíblia: Conexões Profundas que Transformam
Passagens Bíblicas Que Fundamentam
Já mencionamos Mateus 2:1-12, mas existem outras passagens que iluminam o significado da Folia:
Lucas 1:26-38 — A Anunciação a Maria. Aqui vemos o início da história que a Folia celebra.
João 1:1-14 — "O Verbo se fez carne e habitou entre nós." Esta é a teologia encarnada que a Folia proclama.
Salmo 72:10-11 — "Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes; os reis de Sabá e de Sebá lhe oferecerão dons. Todos os reis se prostrarão diante dele..." — Uma prefiguração bíblica dos Reis Magos!
Temas Bíblicos que a Folia Perpetua
Tema 1: Busca
Os Reis Magos buscavam Jesus. Nós também buscamos. A Folia nos lembra que essa busca é sagrada, é digna, é vocação cristã.
Tema 2: Perseverança
A jornada foi longa. Havia desertos. Havia perigos. Mas eles continuaram. E nós, em nossas jornadas espirituais, também precisamos perseverar.
Tema 3: Adoração
Quando os Reis chegaram, se prostraram. Não havia dignidade mundana a preservar. Havia um encontro com o divino que exigia submissão e reverência. Assim também nós.
Tema 4: Transformação
Eles não retornaram como partiram. Foram transformados. E nós, quando verdadeiramente encontramos Jesus—reencenado na Folia—também somos transformados.
Mensagem Para o Católico Contemporâneo
Se você está aqui lendo isso, vivendo em 2025, você pode se perguntar: "O que a Folia de Reis tem a me dizer?"
Simples: que sua busca de Jesus é legítima. Que vale a pena continuar, mesmo quando é difícil. Que quando você se encontra com Jesus—na oração, na Eucaristia, na comunidade—isso o transforma. E que você não está sozinho nessa busca. Milhões de cristãos, ao longo de séculos, caminharam esse mesmo caminho.
A Folia é um lembrete encarnado disso.
Como Participar: Guia Prático para Viver Essa Graça
Opção 1: Receber a Folia em Sua Casa
Esta é frequentemente a forma mais acessível. Se você souber de grupos locais de Folia, convide-os. Prepare um presépio ou uma imagem de Jesus. Reúna sua família.
Quando a Folia chegar, participe. Ouça os versos. Deixe as crianças perto. Quando a bênção for dada, receba com fé. E sim, frequentemente há comida compartilhada no final. Prepare algo gostoso para oferecer.
Opção 2: Buscar e Unir-se a um Grupo Local
Pergunte em sua paróquia. Procure nas comunidades católicas online. Há grupos de Folia em quase todas as cidades do Brasil. Eles precisam de pessoas. Eles ensinam os versos. Eles treinam os instrumentos.
Participar de uma Folia como membro é uma experiência transformadora. Você viverá a espiritualidade de dentro para fora.
Opção 3: Contribuir Financeiramente
Se você não consegue participar ativamente, pode contribuir. Os grupos precisam de dinheiro para manutenção de instrumentos, para lanches nas apresentações, para viagens.
O Impacto Pessoal
Qualquer que seja sua forma de participação, saiba isto: você estará vivendo a fé dos Reis Magos. Por algumas horas ou semanas, você será parte de uma tradição que conecta você a séculos de fé católica. Será uma experiência espiritual genuína.
Conclusão: A Folia de Reis Continua Chamando
A Folia de Reis é muito mais do que tradição folclórica. É teologia encarnada. É catequese viva. É fé em movimento.
Neste artigo, aprendemos que:
✓ A Folia de Reis é uma celebração católica genuína que reencena a adoração dos Reis Magos ✓ Acontece entre Natal e Dia de Reis (24 de dezembro a 6 de janeiro), com pico na Epifania ✓ O significado é profundamente teológico: celebra a manifestação de Jesus ao mundo ✓ É fundamentada na Bíblia, especialmente em Mateus 2:1-12 ✓ É reconhecida como legítima pela Igreja Católica e pela CNBB ✓ É uma experiência sensorial e espiritual completa ✓ Possui importância espiritual, cultural, evangelizadora e comunitária ✓ Não é pecado—muito pelo contrário, é prática pia louvável ✓ Conecta católicos contemporâneos com dois mil anos de história cristã
Mas aqui está a verdade final: toda essa teoria, toda essa análise, não substitui a experiência viva. A Folia precisa ser experimentada.
Se em dezembro você tiver a oportunidade de receber uma Folia de Reis em sua casa, não deixe passar. Se souber de um grupo na sua região, procure. Permita-se viver aquela noite fria de janeiro, aquele som inconfundível de violão e pandeiro, aquela bandeira brilhante, aquela proclamação de fé.
Permita-se ser, por algumas horas, um dos Reis Magos. Deixe-se guiar pela estrela. Deixe-se transformar pelo encontro com Jesus.
Porque aquilo que começou em Belém, há dois mil anos, quando três reis estrangeiros caíram de joelhos diante de um Menino que mudaria o mundo—continua acontecendo. Continua marcando vidas. Continua transformando corações.
E sim, continua sendo a Folia de Reis.
Compartilhe Sua Fé, Viva Essa Graça
Você já participou de uma Folia de Reis? Qual foi sua experiência? Deixe nos comentários abaixo. Compartilhe este artigo com alguém que você acha que vai amar conhecer sobre essa tradição extraordinária.
E se desejar aprofundar ainda mais em outros aspectos da fé católica, da vida dos santos, e das tradições que nos conectam com gerações passadas, inscreva-se em nossa newsletter. Toda semana, reflexões que trazem fé, esperança e um toque pastoral genuíno.
Que a luz de Cristo, revelada na Epifania através da Folia de Reis, brilhe em seus corações e guie seus passos.
Que a paz e a graça de nosso Senhor Jesus Cristo estejam com todos vocês.
Amém.


0 Comentários