Introdução: Um Momento de Fé e Transição
A morte do Papa Francisco, ocorrida em 21 de abril de 2025, marca não apenas o fim de um pontificado marcado por reformas e proximidade com os mais pobres, mas também o início de um processo litúrgico profundamente simbólico. Como católicos, compreendemos que a despedida de um pontífice não é apenas um evento histórico, mas um ato de fé que une a Igreja em oração, reflexão e esperança na ressurreição. Este artigo explora os ritos fúnebres do Papa Francisco, destacando como suas próprias escolhas refletem uma espiritualidade humilde, alinhada com o Evangelho e a tradição apostólica.
1. A Preparação do Corpo: Ritos Iniciais e Simplicidade 159
A Confirmação da Morte e o Fim do Pontificado
Assim que a morte do Papa é confirmada, o Camerlengo (Cardeal Kevin Joseph Farrell) inicia os ritos tradicionais. O primeiro passo é a chamada tríplice do nome de batismo do pontífice — Jorge Mario Bergoglio —, um gesto que remonta aos primeiros séculos da Igreja e simboliza o reconhecimento de que a alma retorna a Deus.
Em seguida, o Anel do Pescador, símbolo da autoridade papal, é destruído com um martelo. Este ato, descrito em Mateus 4:19 (“Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”), reforça que o poder do papado não é terreno, mas um serviço à Igreja.
O Corpo e o Caixão: Uma Reforma Litúrgica
Francisco revisou pessoalmente os ritos fúnebres em 2024, abolindo o uso de três caixões (cipreste, chumbo e carvalho) e optando por um único caixão de madeira revestido de zinco18. Essa mudança, segundo o Arcebispo Diego Ravelli, busca destacar que o funeral é o de “um pastor, não de um príncipe”.
O corpo será vestido com uma batina branca simples e paramentos vermelhos, cores que simbolizam a pureza e o martírio, evitando qualquer ostentação.
2. A Exposição Pública: Um Convite à Oração Coletiva 137
Da Capela Santa Marta à Basílica de São Pedro
Após a preparação, o corpo será transladado para a Basílica de São Pedro na manhã de 23 de abril. Diferentemente de seus predecessores, o caixão não será colocado em um catafalco elevado, mas permanecerá aberto e ao nível do chão, enfatizando a humildade que Francisco sempre pregou.
Durante três dias, os fiéis poderão prestar homenagens, acompanhados pela recitação do Terço e da Litania dos Santos, um momento de união mística com a Igreja Triunfante47.
A Missa Exequial: Celebrando a Vida em Cristo
A Missa de Exéquias será presidida pelo Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re, na Basílica de São Pedro. A homilia, central na celebração, refletirá sobre a vida de Francisco à luz das Bem-aventuranças (Mateus 5:3-12), especialmente sua opção preferencial pelos pobres.
A escolha de celebrar dentro da Basílica, e não na Praça São Pedro, segue o desejo do Papa de evitar grandiosidade, embora milhares acompanhem a cerimônia do lado de fora38.
3. O Sepultamento: Rompendo Tradições com Propósito
Santa Maria Maggiore: Um Santuário Mariano
Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, local que visitava após cada viagem apostólica para rezar diante do ícone Salus Populi Romani (Salvação do Povo Romano). Essa decisão, inédita desde o século XVII, reflete sua devocção mariana e o desejo de repousar em um local associado à maternidade espiritual da Igreja.
A procissão fúnebre atravessará Roma, simbolizando a peregrinação final de um Papa que viajou o mundo para anunciar o Evangelho.
O Ritual do Rogito e a Memória do Pontificado
Antes de selar o caixão, um documento chamado rogito — detalhando os principais eventos do pontificado — será colocado junto ao corpo. Essa prática, mencionada em Apocalipse 14:13 (“Felizes os mortos que morrem no Senhor”), serve como testemunho histórico e espiritual.
4. Os Novendiales: Nove Dias de Oração e Memória
Uma Tradição com Raízes Bíblicas
Os novendiales, nove dias de missas em sufrágio, remontam à tradição romana e à novena dos Apóstolos entre a Ascensão e Pentecostes (Atos 1:12-14). Para Francisco, esse período não é apenas de luto, mas de esperança na ressurreição, conforme ensinado em 1 Tessalonicenses 4:13-18.
O Governo Temporário da Igreja
Durante a Sé Vacante, o Camerlengo e o Colégio Cardinalício assumem responsabilidades administrativas, porém sem poder alterar doutrinas ou leis. Esse interregno lembra aos fiéis que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo, não por estruturas humanas.
5. O Conclave: Eleição do Sucessor de Pedro
Preparação Espiritual e Voto Secreto
Entre 15 e 20 dias após a morte, os 135 cardeais eleitores (com menos de 80 anos) se reunirão na Capela Sistina para o Conclave. O nome deriva do latim cum clave (“fechado à chave”), enfatizando o caráter sagrado e reservado da eleição110.
Cada voto é precedido pela invocação “Testor Christum Dominum, qui me iudicaturus est” (“Chamo como testemunha a Cristo, que me julgará”), reforçando a responsabilidade diante de Deus.
O Sinal da Fumaça e o Novo Papa
A eleição termina quando um candidato obtém dois terços dos votos. A fumaça branca da queima das cédulas anuncia Habemus Papam!, enquanto a fumaça preta indica votação inconclusiva. Esse ritual, embora moderno, ecoa a coluna de fogo que guiava Israel no deserto (Êxodo 13:21).
Conclusão: Um Legado de Serviço e Esperança
O funeral do Papa Francisco não é apenas uma despedida, mas um testemunho vivo de seu papado. Suas escolhas litúrgicas — do caixão simples ao sepultamento em Santa Maria Maggiore — refletem um homem que, como São Francisco de Assis, buscou reconstruir a Igreja não com ouro, mas com gestos de amor concreto.
Que este momento nos lembre das palavras de 2 Coríntios 4:7: “Temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário pertence a Deus e não vem de nós”. Assim como Francisco, sejamos todos vasos de barro levando a luz de Cristo ao mundo.
🔍 Para saber mais sobre os ritos fúnebres e o Conclave, consulte as fontes oficiais do Vaticano e artigos especializados.
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