Oração do Credo: A Profissão de Fé Católica Completa (Apóstolos e Niceno)

Aprenda como fazer a oração do credo (Creio em Deus Pai)

A Oração do Credo é mais do que uma simples recitação; é o coração pulsante da fé católica, uma declaração solene e poderosa que une milhões de fiéis em todo o mundo e ao longo dos séculos. Professar o Credo é afirmar as verdades fundamentais que sustentam a crença em Deus Pai, em seu Filho Jesus Cristo e no Espírito Santo. Seja na versão mais curta e antiga, conhecida como Símbolo dos Apóstolos, ou na versão mais detalhada, o Credo Niceno-Constantinopolitano, rezar o Credo é um ato de fé, identidade e comunhão.

Muitos católicos recitam o Credo regularmente, seja na Missa dominical, na oração do Terço ou em momentos pessoais de devoção. Mas qual a origem dessa oração fundamental? Qual o significado profundo por trás de cada artigo? Qual a diferença entre as duas versões? E como a Oração do Credo pode fortalecer nossa vida espiritual?

Neste guia completo, exploraremos a riqueza da Oração do Credo, mergulhando em sua história, desvendando o significado de cada afirmação à luz da Bíblia, apresentando os textos completos das duas versões principais e respondendo às perguntas mais frequentes. Prepare-se para redescobrir a profundidade desta profissão de fé que é um verdadeiro tesouro da Igreja Católica.

Origens Históricas da Oração do Credo

A Oração do Credo não surgiu de uma só vez, mas foi se desenvolvendo ao longo dos primeiros séculos da Igreja, como resposta à necessidade de resumir e proteger a fé apostólica diante de interpretações divergentes e heresias.

O Símbolo dos Apóstolos: A Tradição Antiga

O Símbolo dos Apóstolos é a versão mais antiga e tradicionalmente associada aos doze apóstolos, embora não tenha sido escrita diretamente por eles. Sua estrutura remonta às fórmulas de fé utilizadas no batismo dos primeiros cristãos, especialmente na Igreja de Roma, por volta do século II ou III. Era uma forma concisa e clara de professar as crenças essenciais antes de receber o sacramento.

A lenda antiga diz que os apóstolos, antes de se dispersarem pelo mundo para pregar o Evangelho, reuniram-se e cada um contribuiu com um artigo de fé, formando os doze artigos do Credo dos Apóstolos. Embora seja uma bela tradição, historicamente, o Credo é visto como um resumo fiel da pregação apostólica que foi sendo consolidado pela Igreja primitiva.

O Credo Niceno-Constantinopolitano: Resposta às Heresias

O Credo Niceno-Constantinopolitano, mais longo e teologicamente detalhado, surgiu como resultado de dois importantes Concílios Ecumênicos:

1. Concílio de Niceia (325 d.C.): Convocado para combater a heresia do Arianismo, que negava a divindade plena de Jesus Cristo, afirmando que Ele era uma criatura subordinada ao Pai. O Concílio de Niceia formulou a primeira parte do Credo, afirmando claramente que Jesus é "Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai".
2. Concílio de Constantinopla I (381 d.C.): Convocado para combater heresias que negavam a divindade do Espírito Santo (Macedonianismo ou Pneumatômacos). Este Concílio reafirmou e completou o Credo de Niceia, adicionando a seção sobre o Espírito Santo ("Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado...") e sobre a Igreja, o batismo, a ressurreição e a vida eterna.

Esta versão Niceno-Constantinopolitana tornou-se a profissão de fé oficial da Igreja Católica, recitada solenemente na Missa dominical e em outras celebrações litúrgicas importantes.

Textos Completos da Oração do Credo

É fundamental conhecer as duas versões principais da Oração do Credo:

1. Símbolo dos Apóstolos

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna. Amém.

2. Credo Niceno-Constantinopolitano

Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus: e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.

Análise Detalhada dos Artigos da Fé (Com Base Bíblica)

Vamos explorar o significado profundo de cada afirmação central do Credo, conectando-as com seus fundamentos nas Sagradas Escrituras. Usaremos a estrutura do Símbolo dos Apóstolos como base, mas as verdades são compartilhadas por ambas as versões.

1. "Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra."

• Significado: Afirmamos nossa fé em um Deus único, que é Pai amoroso, possui todo o poder e é a origem de tudo o que existe.
• Base Bíblica: "No princípio, Deus criou o céu e a terra." (Gênesis 1:1); "Porque d'Ele, e por Ele, e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém." (Romanos 11:36); "Pai nosso, que estás nos céus..." (Mateus 6:9).

2. "E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor."

• Significado: Professamos que Jesus não é apenas um profeta ou um homem bom, mas o Filho unigênito de Deus, divino, e nosso Senhor e Salvador.
• Base Bíblica: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16); "...e para que toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai." (Filipenses 2:11).

3. "Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria."

• Significado: Cremos no mistério da Encarnação: Deus se fez homem no ventre de Maria por obra do Espírito Santo, sem intervenção humana. Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
• Base Bíblica: "Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus." (Lucas 1:35); "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós..." (João 1:14).

4. "Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado."

• Significado: Reconhecemos a realidade histórica da Paixão de Cristo. Ele sofreu voluntariamente por nossos pecados, oferecendo sua vida na cruz como sacrifício redentor.
• Base Bíblica: Os relatos da Paixão nos quatro Evangelhos (Mateus 27, Marcos 15, Lucas 23, João 19); "Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados." (Isaías 53:5).

5. "Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia."

• Significado: Cremos que Jesus, após sua morte, desceu ao lugar dos mortos (Sheol ou Hades) para libertar as almas justas que ali esperavam. E, fundamentalmente, cremos em sua Ressurreição corporal ao terceiro dia, a vitória definitiva sobre o pecado e a morte.
• Base Bíblica: "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão..." (1 Pedro 3:18-19); "Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem." (1 Coríntios 15:20).

6. "Subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso."

• Significado: Afirmamos a Ascensão de Jesus ao céu, onde Ele reina em glória com o Pai e intercede por nós.
• Base Bíblica: "...foi elevado às alturas, enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos." (Atos 1:9); "...Cristo Jesus, que morreu ou, antes, que ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós." (Romanos 8:34).

7. "Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos."

• Significado: Cremos na segunda vinda de Cristo (Parusia), quando Ele retornará em glória para realizar o Juízo Final, recompensando os justos e condenando os maus.
• Base Bíblica: "Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras." (Mateus 16:27); "...assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação." (Hebreus 9:28).

8. "Creio no Espírito Santo."

• Significado: Professamos nossa fé na terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, que é Deus, Senhor e Doador da vida, que nos santifica e guia a Igreja.
• Base Bíblica: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito." (João 14:26); "E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo..." (Atos 2:3-4).

9. "Na Santa Igreja Católica; na comunhão dos santos."

• Significado: Cremos que a Igreja foi fundada por Cristo, é una, santa, católica (universal) e apostólica. Cremos também na união espiritual que liga todos os membros da Igreja: os fiéis na terra (Igreja militante), as almas no purgatório (Igreja padecente) e os santos no céu (Igreja triunfante).
• Base Bíblica: "E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." (Mateus 16:18); "Para que todos sejam um..." (João 17:21); "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus..." (1 Pedro 2:9).

10. "Na remissão dos pecados."

• Significado: Cremos no perdão dos pecados concedido por Deus através do sacrifício de Jesus e ministrado pela Igreja, especialmente pelos sacramentos do Batismo e da Reconciliação (Confissão).
• Base Bíblica: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 João 1:9); "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos." (João 20:22-23).

11. "Na ressurreição da carne."

• Significado: Cremos que, no fim dos tempos, nossos corpos ressuscitarão para se unirem novamente às nossas almas.
• Base Bíblica: "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo." (João 5:28-29); "...num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (1 Coríntios 15:52).

12. "Na vida eterna."

• Significado: Cremos que nossa existência não termina com a morte física, mas que estamos destinados à vida eterna na presença de Deus, para aqueles que morrem em Sua graça e amizade.
• Base Bíblica: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17:3); "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Apocalipse 21:4).

A Importância da Oração do Credo na Vida Católica

A Oração do Credo não é apenas um resumo doutrinário, mas uma ferramenta espiritual poderosa:

• Afirmação da Identidade: Rezar o Credo nos lembra quem somos como católicos e no que acreditamos.
• Fortalecimento da Fé: Em momentos de dúvida ou dificuldade, recitar o Credo reafirma nossa confiança nas verdades eternas.
• Unidade Comunitária: Une os fiéis em uma só voz, expressando a fé comum da Igreja em todo o mundo.
• Base para a Catequese: Serve como um guia fundamental para o ensino e aprendizado da fé.
• Defesa contra o Erro: Ajuda a discernir a sã doutrina de interpretações equivocadas.
• Ato de Louvor: É uma forma de louvar a Deus por sua obra criadora e redentora.

Quando e Como Rezar a Oração do Credo?

• Na Santa Missa: O Credo Niceno-Constantinopolitano é recitado solenemente aos domingos e em solenidades, após a homilia, como resposta da assembleia à Palavra de Deus proclamada.
• Na Oração do Terço/Rosário: O Símbolo dos Apóstolos é tradicionalmente rezado no início do Terço, após o oferecimento e antes do Pai Nosso inicial.
• Em Orações Pessoais: Pode ser rezado a qualquer momento como uma profissão pessoal de fé, para fortalecer a esperança ou em momentos de tentação contra a fé.
• No Batismo: Fórmulas baseadas no Credo são usadas como profissão de fé batismal.

Para rezar o Credo com fruto, é importante fazê-lo com atenção e devoção, meditando sobre o significado de cada palavra e permitindo que essa profissão de fé transforme o coração e a vida.

Perguntas Frequentes (FAQ) sobre a Oração do Credo

• Qual a diferença entre o Credo dos Apóstolos e o Credo Niceno-Constantinopolitano? O Credo dos Apóstolos é mais antigo e curto, tradicionalmente ligado à pregação apostólica. O Niceno-Constantinopolitano é mais longo e detalhado, formulado nos Concílios de Niceia e Constantinopla para combater heresias e afirmar mais explicitamente a divindade de Cristo e do Espírito Santo.
• Qual Credo devo rezar? Ambos são válidos e expressam a mesma fé. O Niceno-Constantinopolitano é o oficial da Missa. O Símbolo dos Apóstolos é comum no Terço e em orações pessoais.
• Por que o Credo é chamado de "Símbolo"? A palavra grega "symbolon" significava uma metade de um objeto quebrado (como um selo) apresentada como sinal de reconhecimento. O Credo é um "símbolo" da fé, um sinal de reconhecimento e comunhão entre os crentes.
• É pecado ter dúvidas sobre algum artigo do Credo? Ter dúvidas ou dificuldades em compreender certos mistérios da fé é humano. O importante é buscar esclarecimento com humildade, estudar a doutrina da Igreja e pedir a Deus o dom da fé. A recitação do Credo pode ser um ato de vontade e confiança, mesmo em meio a lutas intelectuais.
• O Credo pode mudar? O Credo expressa verdades de fé imutáveis reveladas por Deus. A Igreja pode, ao longo do tempo, aprofundar a compreensão dessas verdades e expressá-las de forma mais clara (como ocorreu nos Concílios), mas a essência da fé professada no Credo permanece a mesma.

Conclusão: O Credo como Caminho de Vida

A Oração do Credo é um presente precioso da Tradição da Igreja. É um mapa que nos guia na jornada da fé, uma âncora que nos firma nas verdades eternas e uma canção que une nossas vozes à grande sinfonia da Igreja universal. Ao recitar "Creio em Deus Pai...", não estamos apenas repetindo palavras antigas, mas renovando nosso compromisso pessoal com o Deus vivo e verdadeiro, que se revelou em Jesus Cristo e continua agindo pelo Espírito Santo.

Que possamos rezar a Oração do Credo não apenas com os lábios, mas com o coração e a vida, permitindo que cada artigo transforme nossa maneira de ver o mundo, de nos relacionarmos com Deus e com o próximo. Que a nossa profissão de fé seja um testemunho luminoso para um mundo que tanto necessita da esperança e do amor que brotam do coração de Deus.

 

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